“Quando a inspiração para
uma coleção é a literatura tudo fica mais fácil, pois você é o dono da imagem.”
“Em muitos países a moda
já é entendida como cultura. Ela faz parte dos novos vetores de cultura, como a
arquitetura, a gastronomia e o design gráfico. (...) Existe uma ignorância e um
preconceito contra o setor [da moda]. É um vetor que emprega? Sim, como todos
os da cultura. Que movimenta dinheiro? Sim, como o cinema. Mas é sem dúvida um
vetor cultural. Muito da memória e da cultura de um país é entendida pela forma
como as pessoas moram, comem e vestem em determinada época.”
“A cultura de moda no
Brasil está adolescendo. Já temos uma identidade de moda. O estrangeiro bate o
olho na nossa roupa e sabe que é brasileira. Vivemos tempos adversos, nossa
indústria têxtil padece com concorrência desleal que vem de fora, mas somos
resistentes, somos otimistas só de raiva.”
“[A crise da indústria têxtil
brasileira é] muito triste, perdemos grandes tecelagens, uma geração de
empregos, de renda, de retorno econômico. E perdemos parte da cultura
brasileira. No século XX, o Brasil tinha o poder da indústria têxtil, perder
isso foi um pecado. Mas também é um setor que não tem articulação política
alguma, estamos aprendendo.”
“Faço tudo no Brasil.
Minha estrutura é pequena. Já foi maior, mas tive que diminuir justamente para
sobreviver. No Brasil, ou você é pequeno ou gigante. Quando comecei a fazer
coleção infantil, por exemplo, tive que escolher entre ela e a masculina. Por
isso, hoje, o masculino é um coadjuvante na loja, mas não vai mais para
desfiles.”
“Só tem uma coisa que me
move, que se eu não fosse estilista eu continuaria a perseguir: meu amor pela
cultura brasileira. O primeiro contato que eu tive com a moda foi lendo. Eu lia
muita literatura política e, em um livro do Zuenir Ventura, li sobre a Zuzu
Angel. Uma figura marcante na moda e na política. Nunca pensei que com a moda
você pudesse falar outras coisas que não fosse a roupa, a estação. Por isso,
minha cartilha sempre foi essa, fazer a moda como um vetor cultural.”
“Eu digo que a moda está
louca para se libertar da roupa. E ela faz isso quando estabelece diálogo com
outras frentes. Colocar seu estilo ao serviço da indústria é fascinante. Essas
parcerias colocam a moda no lugar dela, que é a contemporaneidade, o cotidiano.
Agora fiz uma parceria com uma marca de cosméticos masculina francesa. Por
enquanto ainda não posso dar mais detalhes.”
Ronaldo Fraga, estilista
brasileiro, em entrevista à edição online da revista “Veja”, 31-03-2014 ::
Entrevista integral no link: http://abr.ai/1mGrnMx.
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