Ralph Lauren, Armani, Valentino, Kenzo e Massimo Dutti são algumas das marcas de moda mais conhecidas a nível internacional. Mas o que é que casas de alta-costura terão que ver com uma fábrica situada numa pequena freguesia do município de Vila Nova de Famalicão? A resposta é: botões. Sim, mais de 10 milhões de botões são produzidos pela Louropel, diariamente, o que torna a empresa a maior produtora do mundo nesta área, líder incontestável de mercado. O Portal Ver Portugal esteve à conversa com Avelino Rego, administrador da fábrica de botões, que explicou como é que uma empresa totalmente nacional consegue abotoar o mundo.
VER PORTUGAL – Como é que surgiu a
Louropel? Quando é que a empresa iniciou a sua actividade?
AVELINO
REGO – A Louropel – Fábrica de Botões, Lda. iniciou a sua atividade em 1966
como empresa em nome individual do seu sócio fundador, Sr. Carlos Alberto da
Silva Rego, tendo-se dedicado desde sempre à produção e comercialização de
botões. A empresa utilizava então uma tecnologia considerada inovadora para a
época, que consistia na fabricação de botões a partir de polyester, cujo
"know-how" o Sr. Carlos Rego já conhecia e dominava claramente.
VER PORTUGAL – Os produtos que
produziam em 1966 são os mesmos que os que produzem hoje? O que é que mudou?
AVELINO
REGO – Obviamente que não! Os botões estão intimamente ligados ao mundo da
moda, e como é do conhecimento de todos, o vestuário vai sofrendo constantes e
visíveis alterações a todos os níveis, desde os tecidos, padrões, cores,
modelos, etc. Por isso, a Louropel tem também a necessidade de inovar e atualizar
os seus produtos. As preocupações a nível ambiental também fizeram com que
houvessem alterações no fabrico dos botões pois o mercado consome hoje, em
grande escala, botões produzidos através de tecnologias mais limpas e com a
incorporação de produtos naturais (papel reciclado, serradura de madeira,
corozo, algodão, etc.), daí resultando os denominados botões ecológicos biodegradáveis
– produtos inovadores, para os quais a empresa dispõe de tecnologia patenteada
única no mundo. Além do mais, o processo de fabrico destes botões promove a
reciclagem e posterior recuperação dos resíduos sólidos resultantes dos outros
processos implementados, que são depois incorporados no produto final pelo que
se revela uma tecnologia amiga do ambiente. O facto da Louropel estar
atualmente dotada de tecnologia inovadora e de recursos humanos cada vez mais
qualificados faz com que os seus produtos tenham uma qualidade superior.
VER
PORTUGAL – A Louropel foi reconhecida como a maior empresa industrial produtora
de botões do mundo. Quantas unidades produzem diariamente?
AVELINO REGO – A nossa produção
diária varia entre os nove e os 12 milhões de botões.
VER PORTUGAL – De há uns anos para cá
decidiram dedicar-se mais à exportação. Com que países é que trabalham?
AVELINO REGO – A necessidade de
expandir e escoar material fez com que entrássemos no mercado da exportação e
neste momento já exportamos para praticamente todo o mundo. Em maior
percentagem exportamos para os EUA e países da Europa e
Ásia, mas também Austrália, Brasil e Marrocos.
VER PORTUGAL – Em dez anos conseguiram
trocar o mercado interno pelo externo. Que investimento é que tiveram de
realizar para conseguirem redirecionar o negócio para o estrangeiro?
AVELINO REGO – A Louropel definiu a
sua estratégia de médio longo prazo e tomou as medidas para atingir os
objetivos. A empresa com um posicionamento forte no mercado nacional e um “know-how” de elevado valor, iniciou o processo de internacionalização por via das
exportações para alguns países, depois alargou os mercados com um forte
investimento na captação de novos clientes e na prospeção de novos mercados,
tendo também deslocalizado a sua área comercial para alguns mercados. Ao
contrário de deslocalizar a produção como a maioria das vezes acontece, apenas
criou centros avançados de logística e distribuição, em países estratégicos,
para a partir do interior desses países conquistar o reconhecimento da empresa e
da marca sediada em Portugal. Os nossos botões são maioritariamente
direcionados ao segmento de gama alta da moda internacional pelo que apresentam,
naturalmente, e em função do respetivo processo de fabrico, preços mais
elevados que os dos botões tradicionais. Como referência de grandes casas da
moda internacional que são clientes da Louropel sublinho marcas como Ralph
Lauren, Armani, Valentino, Kenzo e Massimo Dutti.
VER PORTUGAL – Obtiveram algum apoio
por parte de órgãos estatais portugueses ou europeus?
AVELINO REGO – A empresa apresentou
candidaturas no âmbito dos Fundos de Coesão, a diferentes programas, com o
apoio do IAPMEI e do AICEP. E todas estas candidaturas foram realizadas com
sucesso.
VER PORTUGAL – A Louropel é também
reconhecida pela sua preocupação ambiental. De que forma é que são uma empresa
amiga do ambiente?
AVELINO REGO – Sempre pugnamos por
manter uma atitude responsável perante o ambiente nas suas várias vertentes ou
dimensões. Desde logo, pela minimização do impacte que a nossa atividade
industrial potencialmente provoca. A inserção da empresa num meio eminentemente
rural foi desde sempre um fator de uma exigência ambiental enorme o que levou a
que cedo incorporássemos boas práticas ambientais no modo de funcionamento.
Estas boas práticas foram complementadas ao longo dos anos com investimentos em
tecnologias de fabrico modernas e de redução da poluição, como por exemplo de
águas residuais industriais e resíduos e que garantem à empresa um desempenho
ambiental que rivaliza com qualquer congénere europeia. Embora importante, esta
vertente é de algum modo assumida como controlada pelo que o nosso enfoque
atual deriva para aspetos ambientais mais globais que podemos influenciar, ou
seja, para a fabricação de botões que incorporem produtos naturais, por
contraposição ao botão tradicional de poliéster, nylon e zamak. A preocupação
com o ciclo de vida do botão desde a origem ou fabrico até ao fim do seu uso
não é para nós um tema novo. Somos detentores desde há alguns anos de várias
patentes de fabrico de botões com produtos naturais, pelo que temos vindo a
efetuar um enorme esforço de introdução destes produtos no mercado, o que não é
fácil se atendermos que estamos inseridos no mercado da moda, em que os grandes
estilistas é que definem o que vai ser usado. É uma batalha que está a dar os
seu frutos e para a qual toda a organização está bastante empenhada.
VER PORTUGAL – Acha que os
portugueses imaginam que a Louropel é a maior produtora de botões ao nível
mundial? Porquê?
AVELINO REGO – Não nos parece. Desde
logo pela descrença típica portuguesa de que somos capazes de ser líderes em
qualquer coisa, principalmente em algo como a produção de botões que tem tanto
de tecnologia como “know-how” humano associado. Por outro lado, porque, de
facto, não nos vangloriarmos disso. Bem ou mal nunca foi política da empresa
fazer grande alarido da situação. A focalização na satisfação do cliente e na
procura incessante de novas soluções e produtos para os fidelizar não deixa de
facto muito tempo livre para dispersar com questões que, embora importantes,
são acessórias ao negócio, principalmente numa empresa de gestão familiar como
a Louropel.
VER PORTUGAL – Sentem falta de apoio
no nosso país? Já pensaram, apesar de se tratar de uma empresa com tradição
familiar, em sair de Portugal?
AVELINO REGO – Como é óbvio e como
qualquer organização, avaliamos permanentemente as melhores soluções para a
sustentabilidade do nosso negócio, mais ainda no momento de crise actual, pelo
que, sim, é uma questão que embora não esteja em cima da mesa já equacionámos.
A vivência na periferia da Europa não é fácil para uma empresa com a dimensão
da Louropel.
[Entrevista publicada no Portal Ver
Portugal, 26-11-2013 :: Ver aqui: http://bit.ly/1eGFpHJ]
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